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Alimenta discute o futuro da proteína animal com foco no Brasil

Com presença da ABPA e de grandes nomes do setor, evento no Paraná foca em inovação, responsabilidade sanitária e projeções para o futuro das carnes brasileiras.

O crescimento populacional e o aumento da renda em países em desenvolvimento colocam o Brasil diante de uma grande oportunidade no setor de proteína animal. Mas, junto ao potencial de expansão, surgem desafios complexos, especialmente na área sanitária. A análise é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, um dos palestrantes do Alimenta – Congresso e Feira Internacional de Proteína Animal, realizado nesta semana no Campus da Indústria da Fiep, em Curitiba (PR).

Com o tema “Panorama global e como o Brasil deve se preparar para os desafios do mercado global de proteínas animais”, Santin vai abordar as tendências que moldam o futuro da produção de aves e suínos, destacando a importância de um olhar estratégico para garantir competitividade em um cenário cada vez mais dinâmico. “Cerca de três bilhões de pessoas no mundo consomem pouca proteína animal, mas isso tende a mudar, principalmente na África e na Ásia”, afirma.

O executivo cita ainda o crescimento de renda em países como Índia e China como impulsionador da demanda global. “As pessoas querem consumir proteína animal. Mesmo com o avanço do vegetarianismo e do veganismo, o espaço para proteína de origem animal seguirá grande nos próximos anos”, reforça.

Biosseguridade é prioridade

Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin: “Nosso sistema sanitário é um dos mais robustos do mundo, mas sempre há espaço para avanços” – Foto: Divulgação

Por outro lado, Santin alerta para a necessidade de o Brasil estar cada vez mais preparado frente às ameaças sanitárias que impactam diretamente a produção e a exportação. “Temos desafios como a Influenza aviária. Recentemente, tivemos o primeiro caso em uma granja de reprodução no Brasil, que foi rapidamente contido, sem disseminação para outras propriedades. O mundo precisa repensar como reage a essa doença. Ela não é transmitida pelo consumo, então não faz sentido suspender exportações por um caso isolado”, argumenta.

Além da gripe aviária, doenças como a Peste Suína Africana (PSA) e a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS), mesmo ausentes no país, mantêm o setor em alerta pelo risco que representam. “Manter o setor produtivo livre de enfermidades exige investimentos contínuos em biosseguridade. Nosso sistema sanitário é um dos mais robustos do mundo, mas sempre há espaço para avanços”, salienta.

Mudanças nas exigências globais

Outro ponto de atenção são as exigências crescentes quanto à origem e impacto ambiental dos alimentos. A redução do uso de antimicrobianos e práticas sustentáveis na produção ganham cada vez mais relevância entre consumidores e mercados, sobretudo da Europa e da Ásia. “O setor precisa evoluir. Sustentabilidade, rastreabilidade e bem-estar animal deixaram de ser diferenciais, são pré-requisitos para competir globalmente”, enfatiza o presidente da ABPA, salienta que o Brasil adota práticas sustentáveis em sua essência e vem reforçando essa imagem ao participar de fóruns internacionais que promovem o setor

Brasil como player estratégico

Com um sistema sanitário robusto e uma cadeia produtiva estruturada, o Brasil segue como um dos maiores players globais de proteína animal. Para preservar esse protagonismo, é preciso antecipar tendências e prever desafios, defende Santin. “Temos uma responsabilidade enorme. O Brasil é peça-chave na segurança alimentar global. Isso exige preparo técnico, políticas públicas eficazes e diálogo permanente com os mercados”, ressalta.

Além dos aspectos sanitários e ambientais, Santin menciona a importância da comunicação clara e baseada em

Fotos: Shutterstock

evidências. “Mostrar ao mundo como o setor opera na prática é essencial para combater percepções equivocadas. Precisamos contar nossa história de forma transparente. O Programa de Incentivo a Práticas Sustentáveis da ABPA faz isso, ao apresentar exemplos reais de manejo responsável, bem-estar e respeito ambiental. É uma forma de mostrar práticas sustentáveis com controle sanitário e confiabilidade na cadeia produtiva”, afirma.

Em um cenário de instabilidade geopolítica, Santin destaca que a segurança alimentar virou prioridade para muitos países. E o Brasil tem se posicionado como parceiro confiável no fornecimento de proteína. “Somos fornecedores para mais de 150 países e mostramos que temos água, solo, clima e, acima de tudo, um povo vocacionado para produzir alimentos com responsabilidade”, exalta.

Mesmo diante do caso recente de Influenza aviária, o Brasil demonstrou capacidade técnica para conter situações sanitárias sem perder credibilidade internacional. Embora alguns mercados tenham suspendido temporariamente as compras, Santin explica que isso se deu por acordos antigos, ainda não atualizados para o modelo de regionalização. “Foram poucos os mercados que interromperam importações. Já ajustamos mais de 130 acordos. Os demais serão revisados após a OMSA declarar o Brasil livre da Influenza aviária, o que deve ocorrer após os 28 dias sem novos casos, encerrando em 18 de junho”, expôs.

Perspectiva de futuro

Para Santin, o Brasil tem plenas condições de se consolidar como principal fornecedor mundial de proteína animal, desde que continue avançando em biosseguridade, sustentabilidade e alinhamento com as demandas de mercado. “Vivemos um momento decisivo. Nossa produção é reconhecida por sua qualidade, sanidade e eficiência. É essencial preservar isso com políticas sólidas e engajamento de toda a cadeia produtiva”, pontua.

Potencial de crescimento

Segundo o presidente da ABPA, o Brasil vive uma conjuntura favorável à expansão de suas exportações. “Mais de 770 milhões de pessoas não têm acesso suficiente a alimentos, e a previsão é que a população mundial cresça em mais de um bilhão até 2050. Esse aumento vai impulsionar a demanda por alimentos”, avalia.

Santin observa que regiões populosas como Índia, China, Paquistão, Indonésia e Bangladesh ainda consomem níveis de proteína animal abaixo da média global, o que representa um grande potencial. “Essas populações vão consumir mais, e o Brasil está pronto para atender a essa demanda”, frisa.

Ele também destaca que os principais concorrentes do Brasil, como Estados Unidos e países da União Europeia, enfrentam problemas sanitários que limitam sua capacidade de exportação. “Enquanto esses mercados reduzem sua produção, o Brasil se consolida como fornecedor seguro e confiável, combinando sanidade, sustentabilidade e produção eficiente”, evidencia Santin.

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